Eu já tinha ouvido falar que o terceiro dia de Caminho Santiago é o mais sofrido - e que depois do quarto dia o corpo já começa a se acostumar à dor.
Em Sarria eu dormi muito, mas muito mal. Acordei às 2h da manhã e fiquei olhando para o teto por um tempão. Depois, acordei a cada meia hora. Quando deu 5h30 da manhã, desisti. Levantei ensopada de suor - culpa do saco de dormir (como isso é quente, meu Deus!), onde suei mais dormindo que caminhando. Quando saí do quarto, estava tudo escuro e não havia uma alma viva pela cidade. Sentei-me à porta do albergue, com um suco de laranja de caixinha e parecia que minha cabeça ia explodir, de tanto que eu pensava. Já era um dos efeitos do Caminho.
Fiquei por uma hora pensando na vida e escrevendo em meu diário. O Caminho é algo muito estranho. Meu humor variava demais e isso me deixava louca! No dia anterior, eu ri até faltar o ar, fiquei impaciente e chorei antes de dormir. Bateu uma tristeza louca, sem motivo. Ou foi meu coração "colocando pra fora" o que estava escondido. Fiquei com saudade de casa, do trabalho que amo, da família que é minha vida, do amor infinito do meu cachorro e, mais uma vez, me perguntei o que eu estava fazendo ali.
Quando deu 6h30, eu queria voltar pra cama, mas tínhamos 22,4 Km para encarar, então, voltei para o quarto, acordei a Cintia e nos arrumamos para este terceiro dia de Caminho. Nos despedimos do pessoal que conhecemos e saímos. Estava frio e nosso corpo doía demais!
Seria mais um dia de subidas. De Sarria até Ferreiros (aproximadamente 13 Km) o Caminho é uma subida só, de mais de 200 metros. Depois, de Ferreiros até Portomarín, uma descidona (300 metros).
Saindo de Sarria, cruzamos a linha do trem, passamos por um riacho, andamos pela mata fechada e, depois de 3,5 Km, paramos em Barbadelo para tomar café da manhã.
A Casa Barbadelo (Villei, s/n) é um albergue lindo, com piscina e tudo. Além do restaurante, tem uma lojinha de souvenirs, que vende vieiras (as conchas dos peregrinos), pins, pulseirinhas e outras coisas do Caminho. O preço era bem bom. Comemos, compramos uns pins e partimos.
Nossas mochilas descansando na Casa Barbadelo |
De Barbadelo a Rente, havia uma nuvem de algodão e pólen pairando sobre o campo. Aquilo praticamente nos cegou. Primeiro achamos que o protetor solar tinha escorrido em nossos olhos, mas depois nos ligamos que era alergia ao pólen. Não parávamos de lacrimejar!
Depois de mais 7 Km, paramos para almoçar, em Ferreiros. Almoçamos o quê? Pão com presunto e queijo, claro. E olha só como esse pão, que comemos todos os dias na Espanha é macio (só que não):
Demos um tempo ali para descansar e esperar o sol baixar um pouco (porque estava muito forte!), e continuamos. Encontramos uma senhorinha saindo de casa com um carrinho de mão e um saco de lixo. Cumprimentamos-na e ela nos pediu ajuda para colocar o saco dentro da lixeira. É claro que ajudamos; e ela começou a puxar papo. "Eu sou muito velha. Tenho 91 anos. Aproveitem a juventude de vocês porque a vida passa muito rápido". E vimos isso como uma lição do Caminho.
O Caminho deste trecho parecia um deserto. E nossos narizes ficaram dois pimentões (mesmo com protetor solar e boné).
O Caminho deste trecho parecia um deserto. E nossos narizes ficaram dois pimentões (mesmo com protetor solar e boné).
De Ferreiros a Vilachá, apesar de ser descida (com algumas subidinhas mais curtas), estávamos tão, mas tão exaustas que começamos a ter crises de riso sem fim. Em uma de nossas paradinhas para descansar, até perdemos o fôlego. Ríamos sem motivo algum, mas era incontrolável.
Vilachá era o último pueblo antes de Portomarín. Faltavam apenas 2,5 Km, mas estávamos tão esgotadas que parecia que faltavam 25 Km. Já passava das 18h e os habitantes que nos víamos caminhando diziam que éramos as últimas peregrinas - que novidade!
Quando Vilachá começou a descer para o rio Mino, que precisávamos atravessar para chegar em Portomarín, mal acreditávamos! Mas a descida era tensa, muito tensa, e nossos joelhos doíam demais (dica: descer de costas alivia os joelhos - só cuidado para não sair rolando, né?).
Em Portomarín, como se não bastassem os 22,4 Km de caminhada, demos de cara com esta "escadinha" e mais uma subida sem fim até chegarmos no albergue. Chegamos quase morrendo, mas chegamos.
Desta vez, escolhemos o Albergue de Portomarín, que é o albergue municipal deste trecho. Apesar de termos chegado só depois das 20h, ainda tinha lugar pra nós duas. Pagamos 6 euros cada uma pela cama, mas... Era péssimo! O chuveiro tinha fechamento automático, não tinha porta (tomamos banho peladonas na frente das outras meninas) e, na cama debaixo do meu beliche estava um velho rabugento. Odiamos!
Saímos pra jantar e tivemos que voltar correndo pra dormir porque o albergue fechava às 22h.
Este foi o trecho que fizemos em nosso terceiro dia de Caminho de Santiago:
Beijos,
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