Viajar sozinha tem seus prós e contras. Na minha balança, os contras pesam mais. Na da Ana, não.
Nunca viajei sozinha para o exterior. Não tive coragem. Fico insegura, com medo de não conseguir me virar no idioma local, medo de ser assaltada e não ter ninguém por perto para me socorrer, medo de ficar doente, medo até de morrer e dar o maior trabalho pra minha família... Hahaha.
Só viajei sozinha para cidades brasileiras, onde eu sabia que poderia gritar para algum conhecido caso acontecesse alguma coisa. Mesmo que eu sequer encontre o conhecido, só de saber que tenho a quem pedir socorro, já sinto-me segura.
Mas o maior problema de todos, para mim, é a solidão que bate, principalmente, à noite. Por mais que eu sempre conheça pessoas e faça amizades, por mais que eu saia com elas, vá curtir a noite, eu sempre fico com a cabeça longe, pensando nos amigos e familiares que eu gostaria que estivessem comigo.
Pra quem não tem coragem de ir pra balada sozinho, em uma cidade desconhecida, como eu, o jeito é se hospedar em albergue. Eu detesto albergue! Detesto dividir banheiro, detesto não ter privacidade, detesto não ter conforto, detesto a bagunça que as pessoas fazem e detesto mais ainda os gringos bêbados que sempre ficam no mesmo quarto que eu. Mas quase sempre que viajei (se não foi a negócios, em que fiquei em hotel), me hospedei em albergue.
A bagunça porca que os gringos fizeram (Stone of a Beach - Copacabana) |
Da primeira vez que viajei sozinha, fui para o Rio de Janeiro e fiz reserva no Che Lagarto, em Copacabana. Apesar de ter família no Rio, eu detesto incomodar. Além do mais, eu estava no auge daquela fase "não ligo para conforto, quero mais é me divertir" e não quis gastar a mais para ficar em um hotel. Assim que entrei no quarto, dei de cara com uma suíça, de aproximadamente 50 anos (pelo menos era o que ela aparentava), sem blusa (e sem sutiã)! Fiquei tão constrangida que fui logo dando meia volta, quando ela disse: "Ah, finalmente uma mulher nesse quarto!". "Como assim finalmente?", pensei. Eu havia reservado uma cama no quarto de meninas, será que estávamos só nós duas ali? Foi quando um italiano entrou, sentou-se no chão e começou a comer um saco inteiro de pão de forma, mergulhado em uma garrafa de leite. Primeiro: que nojo! Segundo: o que diabos aquele cara estava fazendo no quarto de meninas? Fiquei puta, nem guardei minhas coisas e já desci à recepção para reclamar.
- "Nós não temos quarto só de mulheres. Todos os quartos são mistos" -- disse a recepcionista, mal humorada.
- "Mas eu fiz reserva em um quarto feminino!"
- "Sinto muito. As pessoas vão chegando e nós vamos mandando-as para os quartos. Se sobrar espaço, separamos. Se não..."
Ok. Eu não tinha o que fazer. Já era noite e eu não ia sair sozinha por Copacabana pra procurar outro lugar pra ficar. Deixei minhas coisas no quarto e desci para a sala de TV. Eu não queria ficar conversando com aquele italiano estranho, que comia feito um ogro.
Na sala, muitos gringos assistiam a um jogo de futebol americano (e eu doida para a ver a novela). Eles riam, gritavam, falavam mil e uma gírias e eu, perdidíssima entre eles, não conseguia nem puxar papo, afinal, que homem liga para mulher quando há uma bola rolando na TV?
Foi então que escutei dois caras descendo a escada, rindo e falando em português. Não tive dúvidas, levantei, andei até eles e gritei de alegria: "meu Deus! Finalmente, brasileiros!".
Eles riram e começamos a conversar. Pronto, gelo quebrado, eu já me sentia em casa. Eles estavam esperando uma garota terminar de se arrumar para partirem para a noitada em Ipanema. Foi quando vi a Simone descendo a escada. Ela veio logo se apresentando, perguntando de onde eu era e se eu gostaria de sair com eles. Mal sabia eu que, naquele momento, faria uma amiga para toda a vida. Saímos, nos divertimos horrores e, na volta, troquei de quarto para ficar no mesmo que eles.
A viagem acabou sendo o máximo! Juntos, fizemos turismo pelo Rio, conhecemos um monte de gente e, graças à internet, falo com essas pessoas até hoje. A Simone virou até uma grande companheira de viagem -- acabamos viajando juntas mais algumas vezes.
Cheguei a ir para o Rio diversas vezes sem companhia porque eu precisava trabalhar (por conta própria, sem despesas pagas por nenhuma empresa). E, em todas essas vezes, fiquei em albergue. Eu já conhecia todo mundo do Stone of a Beach, do Copinha Hostel... Fui fazendo amizade com os funcionários dos albergues e, como eu sempre voltava para o mesmo lugar, não me sentia tão sozinha. Tive até uma paixão por um recepcionista uma vez. Mas nunca mais me diverti como na primeira viagem. Eu acho que, para isso, é preciso ter sorte. Eu tive uma, duas vezes no máximo. Já aconteceu de eu esperar todo mundo sair do quarto para enfiar a cara no travesseiro e chorar.
A única vantagem mesmo que encontrei em viajar sozinha é ter a liberdade de mudar os planos quando eu bem entender. Quando se viaja com alguém, o roteiro deve ser de agrado de ambas as partes.
Mas isso, pra mim, não tem muito peso. A não ser que sua companhia de viagem seja uma grande mala sem alça, que não queira fazer nada, que fique emburrada o dia inteiro, enfim... Isso já aconteceu comigo: minha companhia não queria sair do hotel, dizia que queria descansar e que não aguentava mais caminhar pela cidade. Estávamos em outro país e tudo o que eu queria era conhecer o lugar a fundo. Brigamos, discutimos, saí sozinha... A viagem acabou sendo uma droga. Não aproveitei nem metade do que poderia ter aproveitado.
Sendo assim, antes só do que mal acompanhada, não é mesmo?
Graças a Deus, encontrei na Ana, a companheira ideal para minhas viagens. Além de ser minha melhor amiga, nós combinamos em tudo: temos (quase) sempre as mesmas vontades, nossas decisões são sempre de comum acordo, não nos incomodamos em nada com a maneira com que a outra arruma ou deixa de arrumar o quarto e, principalmente, sabemos respeitar uma a outra.
Eu não suporto a solidão de viajar sozinha, não suporto a vontade que sinto de estar com as pessoas que amo e não suporto a ideia de não compartilhar as alegrias no momento em que elas acontecem. Aquela história de que a felicidade só é real quando é compartilhada*, pra mim, é a mais pura verdade. Tanto que carregarei essa frase comigo, tatuada em meu braço (olha aí na assinatura), para o resto de minha vida.
*Frase do filme "Na Natureza Selvagem" (Into the Wild - 2007), originalmente escrita em inglês ("Happiness' only real when shared").
Beijos,
Na sala, muitos gringos assistiam a um jogo de futebol americano (e eu doida para a ver a novela). Eles riam, gritavam, falavam mil e uma gírias e eu, perdidíssima entre eles, não conseguia nem puxar papo, afinal, que homem liga para mulher quando há uma bola rolando na TV?
Foi então que escutei dois caras descendo a escada, rindo e falando em português. Não tive dúvidas, levantei, andei até eles e gritei de alegria: "meu Deus! Finalmente, brasileiros!".
Eles riram e começamos a conversar. Pronto, gelo quebrado, eu já me sentia em casa. Eles estavam esperando uma garota terminar de se arrumar para partirem para a noitada em Ipanema. Foi quando vi a Simone descendo a escada. Ela veio logo se apresentando, perguntando de onde eu era e se eu gostaria de sair com eles. Mal sabia eu que, naquele momento, faria uma amiga para toda a vida. Saímos, nos divertimos horrores e, na volta, troquei de quarto para ficar no mesmo que eles.
Com a turma do albergue no Arpoador |
Cheguei a ir para o Rio diversas vezes sem companhia porque eu precisava trabalhar (por conta própria, sem despesas pagas por nenhuma empresa). E, em todas essas vezes, fiquei em albergue. Eu já conhecia todo mundo do Stone of a Beach, do Copinha Hostel... Fui fazendo amizade com os funcionários dos albergues e, como eu sempre voltava para o mesmo lugar, não me sentia tão sozinha. Tive até uma paixão por um recepcionista uma vez. Mas nunca mais me diverti como na primeira viagem. Eu acho que, para isso, é preciso ter sorte. Eu tive uma, duas vezes no máximo. Já aconteceu de eu esperar todo mundo sair do quarto para enfiar a cara no travesseiro e chorar.
A única vantagem mesmo que encontrei em viajar sozinha é ter a liberdade de mudar os planos quando eu bem entender. Quando se viaja com alguém, o roteiro deve ser de agrado de ambas as partes.
Mas isso, pra mim, não tem muito peso. A não ser que sua companhia de viagem seja uma grande mala sem alça, que não queira fazer nada, que fique emburrada o dia inteiro, enfim... Isso já aconteceu comigo: minha companhia não queria sair do hotel, dizia que queria descansar e que não aguentava mais caminhar pela cidade. Estávamos em outro país e tudo o que eu queria era conhecer o lugar a fundo. Brigamos, discutimos, saí sozinha... A viagem acabou sendo uma droga. Não aproveitei nem metade do que poderia ter aproveitado.
Sendo assim, antes só do que mal acompanhada, não é mesmo?
Graças a Deus, encontrei na Ana, a companheira ideal para minhas viagens. Além de ser minha melhor amiga, nós combinamos em tudo: temos (quase) sempre as mesmas vontades, nossas decisões são sempre de comum acordo, não nos incomodamos em nada com a maneira com que a outra arruma ou deixa de arrumar o quarto e, principalmente, sabemos respeitar uma a outra.
Eu não suporto a solidão de viajar sozinha, não suporto a vontade que sinto de estar com as pessoas que amo e não suporto a ideia de não compartilhar as alegrias no momento em que elas acontecem. Aquela história de que a felicidade só é real quando é compartilhada*, pra mim, é a mais pura verdade. Tanto que carregarei essa frase comigo, tatuada em meu braço (olha aí na assinatura), para o resto de minha vida.
*Frase do filme "Na Natureza Selvagem" (Into the Wild - 2007), originalmente escrita em inglês ("Happiness' only real when shared").
Beijos,